Jornada 6 x 1

O debate sobre o fim da jornada 6x1, em que o trabalhador trabalha seis dias por semana e folga apenas um, tem o potencial de propor um debate maior sobre o mercado de trabalho brasileiro. De acordo com a Constituição, trabalho, produtividade, dignidade e qualidade de vida precisam andar juntos. Está muito difícil reconhecer no mercado de trabalho formal um meio de mudar de vida e garantir dignidade. Trabalha-se muito e a renda média é muito baixa. Sendo assim, precisamos com urgência refletir sobre a forma que enxergamos o trabalho no Brasil. 

Pela lei, temos a possibilidade de uma jornada de 44 horas semanais em até seis dias na semana. Essa regra tem mais de 35 anos e foi criada em um momento da história muito diferente de hoje. A economia e a sociedade brasileira mudaram muito, a tecnologia avançou demais e não podemos continuar enxergando o mercado de trabalho com uma lente desatualizada. 

A produtividade dos trabalhadores é um elemento central nessa discussão: pessoas exaustas trabalham mal. E o Brasil é recordista mundial em diagnósticos relacionados à exaustão dos trabalhadores. Evidentemente temos muito a refletir e a fazer sobre isso. Mas o debate fica muito reduzido se ele é feito apenas no parlamento. As empresas precisam pensar muito se realmente esse modelo de jornada é sustentável, e elas podem mudar isso sem precisar de uma emenda constitucional. O aparente aumento de despesas de folha de pagamento que essa medida causaria pode tranquilamente ser transformado em aumento de performance e de receita, além da qualidade de vida do trabalhador que, mais descansado, pode trazer respostas mais qualificadas. 

Existem formas de medir isso e esse debate precisa com urgência escapar do discurso político para ganhar um contorno de patamar civilizatório. Se a gente quer uma sociedade satisfeita com o potencial do trabalho, dignidade e qualidade de vida, certamente repetir a estratégia de 40 anos atrás não é a melhor resposta.

*Antônio Carlos Souza de Carvalho é advogado, cientista político e sócio do escritório Souza de Carvalho Sociedade de Advogados. Trabalhou em diversas campanhas municipais, estaduais e presidenciais, com foco especial na regularidade e compliance dos contratos de eventos e publicidade de campanha.

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