Minas Gerais e as fake news

O presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte e pré-candidato à prefeitura da capital, Gabriel Azevedo (MDB), foi multado recentemente por divulgar uma informação inverídica acerca do percentual de crianças matriculadas na rede municipal de ensino. O TRF-MG ainda determinou que vídeo nas redes sociais do político que abordou o assunto fosse excluído.

Em sua defesa na Justiça, Azevedo alegou que o fato divulgado não se tratava de uma notícia falsa. O vídeo teria trazido apenas uma “imprecisão estatística”. O fato é que, em um país no qual as fake news já fazem parte do dia, nem mesmos dados relacionados às crianças escapam da disseminação de notícias falsas para atender a determinadas agendas políticas. Isso se agrava quando percebemos que os mineiros, como ocorre em todo país e em outras nações, não possuem ainda uma cultura de checagem dos fatos. E nem mesmo entendem o quão é profundo o fenômeno das fake news.

Embora estejamos a apenas quatro meses das próximas eleições, o senso comum segue acreditando que elas correspondem apenas a notícias falsas. Contudo, vão muito além disso. São uma anomalia e um fenômeno político levado a proporções inimagináveis graças às redes sociais. São criadas sob medida para perfis específicos da população. Portanto, ameaçam a Democracia assim como o voto de cabresto, a corrupção e a fisiologia. São uma leitura distorcida da realidade de forma proposital que atende a uma determinada agenda política.

Apenas alguém que ainda acredita na Democracia pode se questionar sobre quais interesses estão por trás de uma determinada fake news. Do contrário, a desconfiança abre caminho para a mentira. É difícil pedir confiança para uma população que muitas vezes é deixada às margens do Estado e para a qual as instituições não funcionam. O que tem acontecido em Minas Gerais?

Trata-se de uma questão de cidadania não aceitar o jogo da mentira. E é por isso que o tema das fake news necessita ser discutido com profundidade. Afinal, a solução para resguardar a Democracia é termos mais Democracia com mais pessoas participando do debate.

Do contrário, se a política é o terreno da mentira e da descrença, que diferença faz mentir ou falar a verdade? É nesse ambiente que os mineiros vão às urnas em outubro desse ano.

*Antônio Carlos Souza de Carvalho é advogado, cientista político e sócio do escritório Souza de Carvalho Sociedade de Advogados. Trabalhou em diversas campanhas municipais, estaduais e presidenciais, com foco especial na regularidade e compliance dos contratos de eventos e publicidade de campanha.

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